
ABRACE A TRISTEZA
"Há algo importante que precisa serdito sobre a tristeza:trata-se de um sentimento muito rico"
Por Cynthia Rosenburg
O americano Jerome Wakefield,professor da Universidade de Nova York,estuda os fundamentos filosóficos da psiquiatria.Com formação em psicologia e doutorado em filosofia,gosta de investigar a natureza das doenças.Nos últimos tempos,Wakefield debruçou-se sobre a depressão-uma doença hoje considerada epidêmica-e sobre a linha tênue que a separa da tristeza comum,provocada pelas desventuras da vida."Desde que a psiquiatria passou a diagnosticar a depressão de acordo com os sintomas,e não pelo contexto vivido pelo indivíduo,existe uma enorme confusão entre as duas coisas",afirma."O resultado é que as pessoas se tornam ultra-sensíveis em relação as emoções negativas e preferem tomar remédios a investigá-las".
Segundo Wakefield,a tristeza profunda existe em todas as culturas e os motivos que provocam podem ser enquadrados nas mesmas categorias em todos os lugares."Se você mostrar um foto de alguém tristonho a moradores de uma tribo isolada e perguntar por que a pessoa está daquele jeito,el
es apontarão os mesmos motivos que eu ou você",diz."Dirão que o retrato é de alguém que perdeu um ente querido,ou terminou um relacionamento,ou está enfrentando dificuldades materiais,ou está doente e por aí vai".Por isso,diz o pesquisador,chama atenção o fato de a tristeza ter se transformado num estigma em nossa sociedade.No livro The Loss of Sadness(numa tradução livre:"A perda da tristeza"),Wakefield e o sociólogo Allan Horwitz explicam como chegaram ao ponto de classificar como doença um sentimento que é parte da vida.De Nova York,Hakefield falou a Época Negócios.
Segundo Wakefield,a tristeza profunda existe em todas as culturas e os motivos que provocam podem ser enquadrados nas mesmas categorias em todos os lugares."Se você mostrar um foto de alguém tristonho a moradores de uma tribo isolada e perguntar por que a pessoa está daquele jeito,el
es apontarão os mesmos motivos que eu ou você",diz."Dirão que o retrato é de alguém que perdeu um ente querido,ou terminou um relacionamento,ou está enfrentando dificuldades materiais,ou está doente e por aí vai".Por isso,diz o pesquisador,chama atenção o fato de a tristeza ter se transformado num estigma em nossa sociedade.No livro The Loss of Sadness(numa tradução livre:"A perda da tristeza"),Wakefield e o sociólogo Allan Horwitz explicam como chegaram ao ponto de classificar como doença um sentimento que é parte da vida.De Nova York,Hakefield falou a Época Negócios.
Por que a tristeza virou motivo de debates recentemente?
-Diversos livros e artigos sobre felicidade surgiram nos últimos anos.Além disso,inúmeras pesquisas e obras sobre depressão foram publicadas.Agora essas duas coisas estão entrando em colisão.Existem dúvidas em relação ao objetivo de alguns desses trabalhos,que seria tornar possível que as pessoas sejam mais e mais felizes.É claro que todos querem ser mais felizes e não há nada errado nisso,mas há uma percepção de que alguns autores estão tentando ignorar a tristeza,ou defender que ela seja algo ruim,quando outros acreditam que a tristeza é uma emoção normal que cumpre um papel importante em nossas vidas.Esse debate envolve questões antigas,que remontam a 2,5 mil anos,relacionadas à natureza e ao sentido da vida.São questões profundas.E essa discussão,além de uma dimensão psicológica,tem uma dimensão política,na medida em que a busca pela felicidade individual pode tirar a atenção das pessoas de questões sociais mais amplas e da necessidade de agir para aprimorá-las.
-Diversos livros e artigos sobre felicidade surgiram nos últimos anos.Além disso,inúmeras pesquisas e obras sobre depressão foram publicadas.Agora essas duas coisas estão entrando em colisão.Existem dúvidas em relação ao objetivo de alguns desses trabalhos,que seria tornar possível que as pessoas sejam mais e mais felizes.É claro que todos querem ser mais felizes e não há nada errado nisso,mas há uma percepção de que alguns autores estão tentando ignorar a tristeza,ou defender que ela seja algo ruim,quando outros acreditam que a tristeza é uma emoção normal que cumpre um papel importante em nossas vidas.Esse debate envolve questões antigas,que remontam a 2,5 mil anos,relacionadas à natureza e ao sentido da vida.São questões profundas.E essa discussão,além de uma dimensão psicológica,tem uma dimensão política,na medida em que a busca pela felicidade individual pode tirar a atenção das pessoas de questões sociais mais amplas e da necessidade de agir para aprimorá-las.
A tristeza tornou-se um sentimento intolerável na nossa sociedade?
-Acredito que ainda não chegamos a esse ponto,mas de fato existe uma impaciência crescente em relação à tristeza.É como se houvesse menos tolerância em relação a amplitude natural das emoções humanas.Num mundo que valoriza a eficiência e o trabalho frenético,há pouco espaço para o sofrimento e para a dor.A tristeza profunda provoca,biologicamente,uma necessidade de recolhimento.Ela pode fazer com que você não queira trabalhar por uns dias,ou não queira ver seus amigos por algumas semanas,e isso é considerado indesejável.Acredita-se que as emoções não podem atrapalhar os papéis profissionais ou familiares de uma pessoa.Quando isso acontece,existe uma tendência de rotular esse comportamento como doença-ainda que o sofrimento tenha sido provocado por um fator específico,como a perda de alguém querido,de um relacionamento importante,de um emprego ou de um bem material,por exemplo.A psiquiatria passou a rotular quase todo o tipo de tristeza como depressão,e as pessoas tornam-se ultrasensíveis em relação aos sentimentos negativos.Muitos recorrem aos antidepressivos ao primeiro sinal de angústia.
Como não confundir tristeza com depressão?
-A depressão é um quadro clínico no qual o sofrimento não tem nenhuma relação com o contexto que a pessoa esta vivendo,ou no qual sua resposta emocional é completamente desmentida em relação ao evento que provocou aquele sentimento.A tristeza normal-que pode ser intensa-é uma resposta natural a um acontecimento real.Essa distinção fundamental não é fácil.Há uma linha tênue entre as duas coisas e sempre haverá casos controversos.O problema é que ela simplesmente não está sendo feita.
Há casos em que a tristeza deve ser tratada com remédios?
-Eu e meu colega Allan Horwitz não somos radicalmente contra o uso de medicação.
Acreditamos que a decisão de usar ou não medicamentos deva ser tomada pelo médico com seu paciente.É possível que o uso de remédios seja apropriado em alguns casos de tristeza,quando o sofrimento é extraordinariamente intenso e a pessoa sente que se conseguir aliviá-lo um pouco poderá se tornar mais apta para lidar com aquela situação e reconstruir um determinado aspecto de sua vida.Mas é importante notar,em primeiro lugar,que essas drogas não são tão eficazes para a maioria das pessoas quanto costumamos acreditar.Não é como tomar uma aspirina para dor de cabeça.Na maioria dos casos,é necessário tentar vários remédios até encontrar um que funcione.Em segundo lugar,os efeitos colaterais são piores do que os anunciados e vão além de alterações na libido.O mais importante,porém,é que a ciência ainda não sabe de que maneira os medicamentos interagem com a tristeza normal.É algo que ainda precisa ser investigado. O problema é que,como o psiquiatria não distingue entre a depressão e a tristeza normal,as pesquisas que vêem sendo feitas ainda não respondem essa questão.
Acreditamos que a decisão de usar ou não medicamentos deva ser tomada pelo médico com seu paciente.É possível que o uso de remédios seja apropriado em alguns casos de tristeza,quando o sofrimento é extraordinariamente intenso e a pessoa sente que se conseguir aliviá-lo um pouco poderá se tornar mais apta para lidar com aquela situação e reconstruir um determinado aspecto de sua vida.Mas é importante notar,em primeiro lugar,que essas drogas não são tão eficazes para a maioria das pessoas quanto costumamos acreditar.Não é como tomar uma aspirina para dor de cabeça.Na maioria dos casos,é necessário tentar vários remédios até encontrar um que funcione.Em segundo lugar,os efeitos colaterais são piores do que os anunciados e vão além de alterações na libido.O mais importante,porém,é que a ciência ainda não sabe de que maneira os medicamentos interagem com a tristeza normal.É algo que ainda precisa ser investigado. O problema é que,como o psiquiatria não distingue entre a depressão e a tristeza normal,as pesquisas que vêem sendo feitas ainda não respondem essa questão.
Qual o risco de classificar a tristeza mormal como depressão?
-Quando você acredita que tem uma doença,imagina que ela não vai desaparecer sozinha-e a tristeza normal tende a desaparecer com o tempo.Você também acredita que ela foi causada por alguma disfunção física e que ,por isso,precisa de meditação-quando,nos casos de tristeza,outras formas de apoio podem funcionar melhor.Muitas vezes,quando dou entrevistas para programas de rádio ou televisão,as pessoas ligam para contar suas histórias.Muitas relatam que optaram por não tomar remédios,apesar de ter recebido orientação médica,e que enfrentar a tristeza foi fundamental para que pudessem refletir sobre o que é realmente importante em suas vidas.Elas sentem que cresceram com isso.Há algo importante que precisa ser dito sobre a tristeza:trata-se de um sentimento muito rico,que dá à pessoa muitas informações sobre ela própria,informações importantes para o seu desenvolvimento.O uso de medicamentos,por outro lado,pode apagar essas informações.Imagine,por exemplo,se todos aqueles que viveram um fracasso amoroso simplesmente tomassem um comprimido e nunca se sentissem mal em relação ao que aconteceu.Que implicações isso teria para o sentido de comprometimento entre os casais?
Na sua opinião,quem deu maior contribuição para a sociedade: a psicanálise ou os antidepressivos?
-Essa é uma pergunta complicada.Com todo respeito,acredito que a psicanálise falhou em vários pontos.Mas Freud nos deu algumas idéias inestimáveis sobre a vida e como a enfrentamos.Ele ensinou quão pouco conhecemos de nós mesmos,mostrou que precisamos encarar isso e lidar com os aspectos mais profundos da vida se pretendemos ser verdadeiramente felizes.Ele também revelou a complexidade da sexualidade de uma maneira que não havia sido feita até então.Sem falar na importância do inconsciente.Na minha opinião, o que é interessante sobre o ser humano é que nós somos sistemas de sgnificado-e os antidepressivos não deram nenhuma contribuição para o entendimento de como esse sistema funciona.
-Quando você acredita que tem uma doença,imagina que ela não vai desaparecer sozinha-e a tristeza normal tende a desaparecer com o tempo.Você também acredita que ela foi causada por alguma disfunção física e que ,por isso,precisa de meditação-quando,nos casos de tristeza,outras formas de apoio podem funcionar melhor.Muitas vezes,quando dou entrevistas para programas de rádio ou televisão,as pessoas ligam para contar suas histórias.Muitas relatam que optaram por não tomar remédios,apesar de ter recebido orientação médica,e que enfrentar a tristeza foi fundamental para que pudessem refletir sobre o que é realmente importante em suas vidas.Elas sentem que cresceram com isso.Há algo importante que precisa ser dito sobre a tristeza:trata-se de um sentimento muito rico,que dá à pessoa muitas informações sobre ela própria,informações importantes para o seu desenvolvimento.O uso de medicamentos,por outro lado,pode apagar essas informações.Imagine,por exemplo,se todos aqueles que viveram um fracasso amoroso simplesmente tomassem um comprimido e nunca se sentissem mal em relação ao que aconteceu.Que implicações isso teria para o sentido de comprometimento entre os casais?
Na sua opinião,quem deu maior contribuição para a sociedade: a psicanálise ou os antidepressivos?
-Essa é uma pergunta complicada.Com todo respeito,acredito que a psicanálise falhou em vários pontos.Mas Freud nos deu algumas idéias inestimáveis sobre a vida e como a enfrentamos.Ele ensinou quão pouco conhecemos de nós mesmos,mostrou que precisamos encarar isso e lidar com os aspectos mais profundos da vida se pretendemos ser verdadeiramente felizes.Ele também revelou a complexidade da sexualidade de uma maneira que não havia sido feita até então.Sem falar na importância do inconsciente.Na minha opinião, o que é interessante sobre o ser humano é que nós somos sistemas de sgnificado-e os antidepressivos não deram nenhuma contribuição para o entendimento de como esse sistema funciona.

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